quinta-feira, 14 de abril de 2011

Uma coleira salva-vidas

Governo dará início a projeto-piloto inédito para conter a leishmaniose, que atinge cães e homens

Uma coleira repelente e inseticida para cães é a aposta do Governo Federal para impedir o avanço da leishmaniose visceral, que atingiu 13 mil pessoas no ano passado. As 20 cidades mais atingidas pela doença serão, no primeiro semestre deste ano, um laboratório para as 500 mil coleiras que serão colocadas em todos os cães de cada município, neste estudo conduzido pelo Ministério da Saúde (MS).

“As coleiras a serem usadas são impregnadas com uma substância chamada deltametrina, que se espalha pela pele e mata o inseto ao entrar em contato com o animal. Dos resultados deste estudo sairá a recomendação ou não do uso em massa”, explica o médico epidemiologista Guilherme Werneck, coordenador do projeto apoiado pelo MS e professor do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Segundo Werneck, as cidades do Sul do país dificilmente serão incluídas no estudo, por terem baixos níveis de transmissão registrados. No Paraná, apesar de apenas 12 casos de leishmaniose em humanos terem sido confirmados de 2007 a 2010, a mera notificação da doença deixa donos de cães de orelha em pé: o mosquito prefere os cachorros, que ao terem a contaminação constatada, devem passar pela eutanásia.

A doença não é contagiosa – ou seja, o cão não a transmite para o homem e vice-versa. O protozoário se instala no organismo pela picada de um mosquito infectado pelo Leishmania chagasi.

Para o farmacêutico Marco Castro, que trabalha na conscientização sobre a doença, a coleira, caso seja verificada sua eficácia, seria melhor opção ao uso de inseticidas ou à eutanásia. “Muitos proprietários acabam fugindo com o cão ou entram com uma medida judicial, além de ser uma situação muito antipática em relação ao proprietário. O inseticida também tem alcance limitado, pois o adulto picado pode demorar anos para ter a doença, e aí o bairro onde ele mora já não está mais contaminado.”

Viagens

Segundo Alexander Biondo, professor de Zoonoses do curso de Medi-cina Veterinária da Universidade Federal do Paraná, apesar de o Paraná não ter casos autóctones – surgidos aqui – os paranaenses que têm bichos de estimação devem ficar alertas, principalmente em viagem a outros estados como São Paulo, Mato Grosso do Sul, estados do Nordeste e mesmo Santa Catarina. “Se a pessoa vai para uma região endêmica, o ideal é colocar a coleira antes”, diz ele.

“Quando a leishmaniose aparece em pessoas, fatalmente ela está em cães. Estima-se que 10% dos cachorros brasileiros são soropositivos”, diz o farmacêutico Marco Castro, que mostra a dimensão do problema: “por noite, um cão leva quase 700 picadas de insetos. Imagine a contaminação que apenas um animal é capaz de desencadear. Além disso, o mosquito-palha não precisa de água limpa para viver, como o mosquito da dengue, e é 10 vezes menor que ele.”

Ciclo de infecção
A leishmaniose afeta principalmente cães e homens:
- O cão saudável recebe uma picada da fêmea do flebotomíneo (mosquito-palha) infectada com o Leishmania chagasi.
- A incubação do protozoário leva de dez dias a dois anos, mas o cão pode não desenvolver sinais.
- Entre os que desenvolvem, os sinais clínicos são emagrecimento, lesões de pele no focinho, orelha e lábio, perda de pelo, aumento dos gânglios linfáticos e alterações nas unhas.
- Caso o animal seja diagnosticado com o problema, a regra do Ministério da Saúde é fazer a eutanásia, para evitar a proliferação do doença. A leishmaniose é infecciosa, não contagiosa.
- Todos os animais infectados podem contaminar outros insetos.


02/04/2011

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